Tricotilomania – arrancar cabelo é doença e tem tratamento
Relato pessoal:
Em 2000, passei por momentos de estresses e entrei em um quadro de depressão. Junto com a depressão, ansiedade. E junto com tudo isso, me deparei com a minha cabeça (o meio da cabeça, onde a gente parte o cabelo) com uns 4 dedos de largura, pegando todo o comprimento da cabeça, essa parte inteira SEM cabelo.
Não sei como começou, mas o resultado foi horrível como você já pode imaginar...
Consegui dentro de alguns meses sair da depressão e consequentemente, consegui parar de arrancar meus cabelos. Se não fosse tão trágico, seria cômico.
Foram meses de sofrimento à espera do crescimento do cabelo novamente.
Parei totalmente com essa "mania" naquela época, mas hoje, 17 anos após, peguei-me arrancando novamente meus fios.
Não estou em depressão, mas estou com ansiedade. E vou começar a travar outra batalha contra mim.
O primeiro passo é saber "o que tem" e buscar trata-lo. Lá vamos nós...!
#Força!
Parei totalmente com essa "mania" naquela época, mas hoje, 17 anos após, peguei-me arrancando novamente meus fios.
Não estou em depressão, mas estou com ansiedade. E vou começar a travar outra batalha contra mim.
O primeiro passo é saber "o que tem" e buscar trata-lo. Lá vamos nós...!
#Força!
A tricotilomania não se encaixa propriamente na categoria “queda” de cabelos, porque nesse caso os fios não caem: eles são arrancados. Trata-se de um comportamento compulsivo, muitas vezes associado a quadros de stress, depressão e ansiedade, que leva a pessoa a puxar e remover os fios do próprio cabelo.
O problema é mais comum – e perigoso – do que parece. Acredita-se que até 4% da população pode ser afetada (as mulheres são quatro vezes mais propensas a desenvolver o quadro do que os homens). Nos casos em que os fios arrancados são ingeridos (chamado de tricofagia), as complicações de saúde podem ser bastante severas, inclusive com risco de morte.
O perigo é ainda maior porque a maioria dos afetados sofre calada. O constrangimento de desenvolver áreas visíveis de calvície junta-se à vergonha de admitir que foi a própria pessoa que arrancou os fios, o que pode levar ao isolamento social e agravar ainda mais o problema.
Não é um hábito inofensivo, não é frescura, não é “pra aparecer”, não é falta do que fazer. Tricotilomania é coisa séria. E tem tratamento.
Como acontece
Não se sabe exatamente que fatores interferem no surgimento da tricotilomania. Algumas pessoas manifestam o comportamento desde crianças, outras passam a arrancar os fios após algum acontecimento importante, estressante ou traumático. Acredita-se que fatores genéticos também possam ter alguma influência no surgimento do distúrbio.
Apesar das associações frequentes com stress e ansiedade, em grande parte dos casos o comportamento aparece em situações entediantes ou de forma “automática”, como um hábito, sem muita atenção dirigida ao que se está fazendo (os fios são puxados distraidamente enquanto a pessoa estuda, assiste televisão, fala ao telefone ou lê um livro, por exemplo).
Em outras situações o tricotilomaníaco procura por fios dentro de um critério específico (numa área definida da cabeça, com uma textura ou comprimento determinados, que pareçam arrepiados ou fora do lugar, que sejam brancos ou mais claros/escuros que os demais). Muitas pessoas dizem sentir tensão e ansiedade, seguidos por um grande alívio ao arrancar os fios e, mais tarde, pela culpa por tê-lo feito – o que aproxima o quadro dos padrões observados em um vício.
Normalmente o comportamento se manifesta quando o indivíduo está sozinho, e nem sempre o alvo são os cabelos: os pelos de outras partes do corpo também podem ser arrancados (sobrancelhas, cílios, barba, etc).
O distúrbio é motivo frequente de constrangimento social, seja pelas críticas de familiares e amigos (que muitas vezes não entendem que o comportamento é um distúrbio, e não uma escolha simples e fácil de interromper), seja pelo impacto visual gerado quando as áreas de raleamento ou ausência total de cabelos ficam evidentes. É comum que o tricotilomaníaco tente esconder os sinais, seja usando lenços, chapéus ou outros artifícios para cobrir as áreas mais danificadas do couro cabeludo, seja deliberadamente arrancando fios de áreas diferentes da cabeça para distribuir o efeito e torná-lo menos perceptível.
Muitas pessoas “brincam” com os fios arrancados, enrolando-os nas mãos, analisando-os ou levando-os à boca, podendo até mesmo engolir os fios. Esse quadro é chamado de tricofagia, e pode levar a vômitos, dores abdominais, sangramentos internos e obstruções gastrointestinais severas, que às vezes exigem intervenção cirúrgica e podem até ser fatais se não forem devidamente diagnosticadas a tempo.
Os fios arrancados podem levar de alguns meses até muitos anos pra se recuperarem completamente (dependendo do comprimento do seu cabelo e da velocidade com que ele cresce). Se o trauma causado ao folículo for muito grande (o que pode acontecer especialmente com o arrancamento repetido dos fios durante muito tempo), pode ser que ele pare totalmente de produzir cabelo.
Encarando o problema
O primeiro passo é reconhecer o que está acontecendo. O indivíduo precisa aceitar a sua condição e entender que se trata de um comportamento compulsivo, sério e que requer tratamento.
Algumas pessoas tentam controlar o quadro por conta própria, mas é importante dizer que não conseguir parar sozinho não é um fracasso. Controlar um distúrbio apenas com a própria força de vontade pode ser possível, mas muitas vezes é o caminho mais difícil e mais sofrido. Pedir e aceitar ajuda podem ser os passos mais importantes para que alguém consiga finalmente dominar o problema.
Muitas pessoas procuram atendimento dermatológico para tratar de uma suposta queda de cabelos, mas se sentem envergonhadas de informar que foram elas mesmas que arrancaram os fios, o que pode levar a diagnósticos errados e tratamentos complicados, caros, com risco de efeitos colaterais sérios, e ainda por cima ineficientes, pois não tratam a causa real do problema. Se é o seu caso, lembre-se que mentir para o seu médico só acaba fazendo mal a você, e afastando ainda mais o dia em que você vai conseguir se tratar de verdade.
Tratamento
O tratamento considerado mais efetivo atualmente é a terapia cognitivo-comportamental, realizada por psicólogos especializados. Existem vários métodos dentro desta categoria, mas de maneira geral identificam-se os fatores que podem desencadear o impulso de arrancar os cabelos (horas do dia, acontecimentos, sensações, estados mentais, locais específicos, etc) e então são adotadas alternativas para abordá-los, substituindo a resposta automática de puxar os fios por comportamentos inofensivos.
Nos casos mais severos e associados a outros distúrbios é possível buscar tratamento psiquiátrico, com administração de antidepressivos, ansiolíticos e outros medicamentos relacionados, mas na maioria dos casos o tratamento psicológico já apresenta resultados bastante satisfatórios.
E você?
Você tem tricotilomania? Há quanto tempo luta contra o problema? Já tentou algum tratamento ou método para evitar o impulso de arrancar os cabelos? O que funcionou e o que não funcionou pra você?